domingo, setembro 04, 2005

Nao houve Inverno...

Não houve Inverno. Apenas um cinzento que se prolongou por mais de um ano. Já não havia azul e os raios de sol apenas se viam quando eram teimosos o suficiente para se forçarem pelo maciço de nuvens que rodeava a Terra. O verde estava a murchar, estava a morrer. Os rios lançavam a sua semente castanha num oceano já quase vazio de vida.
Só se ouvia o vento que corria incansável como que desesperado por encontrar um sinal. Nada. Nada para além de pó. Ele empurrava, fazia e acontecia, mas nada era como dantes. Às vezes conseguia elevar a poeira até uma miragem, uma imagem familiar, mas logo esta se desvanecia e ele logo de novo se encontrava só. Nunca se tinha sentido assim, sem risos, sem o chilrear dos pássaros... A maior parte do tempo tinha estado demasiado ocupado a seguir os caprichos da Natureza para reparar nessas maravilhas sonoras, porém, neste momento, como sentia falta delas.
Como podia ter tudo desaparecido tão de repente, ou não foi de repente? Já nem sabia, tempo não era noção de que estivesse ao corrente, já tinha ouvido o termo biliões de vezes, mas nunca tinha despertado a sua curiosidade. Pena, pois talvez agora fosse uma ajuda, ele não conhecia o antes nem o depois, apenas o eterno agora. Contudo, algo tinha mudado e ele não conseguia ordenar o que sabia ter existido no contexto em que se encontrava. Como ele rodopiava em si mesmo à procura duma resposta. A paisagem mudava à sua volta em círculos alucinantes, o ar silvava, tudo o que tinha encontrado descanso no chão se elevava agora e rodava como um carrossel sem destino. De repente parou. O silêncio caiu suavemente como todas as folhas que ainda à pouco pairavam no ar.
Quereria ele mesmo saber? Mudaria alguma coisa? Tinha saudades do que lhe era familiar, mas uma resposta nunca iria apagar ou mesmo mudar tal sentimento, no máximo daria uma explicação, o que seria realmente de pouco conforto. Suspirou e tomou uma decisão. Com alguns sopros suaves desenhou o sol, seu amigo de longo data e símbolo que achou apropriado como despedida a tudo o que tinha sido, mas já não era. Contemplou o mundo moribundo que o rodeava, era ainda a sua casa, não tinha outra, e de olhos atentos partiu à sua descoberta. Ia aprender a amá-lo.

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