terça-feira, março 01, 2011

Por outros olhos...

retirado do jormal "Expresso" de 18.12.10


"Antes de deixar o posto, o embaixador britânico em Lisboa enumera 10 aspectos que espera que permaneçam sempre iguais no nosso país.


Coisas que nunca deverão mudar em Portugal


Portugueses, a vossa atitude sobre o vosso próprio país é magistralmente descrita por Eça Queiróz no jantar do Cohen em "Os Maias". O volume e o tom de autoflagelação aumenta ao longo dos vários pratos servidos (peris pois a la belle Cohen) até que o Ega, já com os copos grita: " Portugal o que precisa é duma Invasão Espanhola". Para actualizar o sentimento só é preciso substituir Espanha por "FMI".
Então em contracorrente ao pessimismo dominante, decidi em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, anotar dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.


1. A ligação intergeracional. Portugal é um país onde os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altissimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade para benefício de todos.


2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente, etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.


3. A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.


4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.


5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.


6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista, mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.


7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa Ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.


8. As mulheres. O adido de Defesa na Embaixada há 15 anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa, para ser mesmo bem feita, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.


9. A curiosidade sobre, e o conhecimento do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um país ligado, e quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.


10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante do mundo. A coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.


Então, seguindo o exemplo dos convidados de Cohen, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços."


E vocês? O que é que incluiriam na vossa lista?

2 comentários:

Unknown disse...

Endosso plenamente as palavras do ilustre ex-embaixador e faço votos para que Portugal continue sabendo rechaçar quaisquer invasões o possam ameaçar.
Agora vamos à sardinha assada e ao bom vinho!

Anónimo disse...

Vamos!